sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

João Baptista Cansado da Guerra (6)

* Victor Nogueira
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HISTORIAS DA PRINCESA COM SAB(O)R A CRAVO E CANELA

A QUEM JOÃ0 BIMBELO ESCRIBOU FALADURA


É como te digo, Princesa, o nome de guerra que me deste com esse teu ar trocista sem maldade foi o de senhor licenciado, embora eu não goste dele e porque não sei nem quero jogar ao gato e ao rato, resolvo mudar o meu em João Baptista Cansado da Guerra; deste modo juntando em Setúbal o tropicalismo de S. Jorge de Ilhéus e da nossa(terra) de S. Paulo de Luanda. Não creio que tenhas alguma coisa a ver com a Princesa da outra história (1), pois Baleizão não é terra quente no meio do alentejo mas sim saboroso e refrescante sorvete vendido pelas ruas em carrinhos, entre duas bolachas, ou ao balcão ou na esplanada do velho prédio de grossas paredes à sombra do morro de S. Miguel e da sua vetusta fortaleza setecentista, que foi museu de Angola e depois quartel de paraquedistas e agora de novo museu, mas da Revolução. Repara, Princesa, que isto parece terra de altares e conventos sem cheiro a santidade pois de outro modo a Clara não escreveria uma novela policial com sabor a coentros, nem encontraríamos um(a) santidade ao virar de cada prédio, edifício, povoado ou circunscrição administrativa, isto para não falar nos enredos de gatos e ratos em que nem todos são peritos e muitas fêmeas são, mesmo quando são pão-pão-queijo-queijo face aqueles que raramente vão direitos ao assunto, embora quando o façam causem securas na garganta do interlocutor. Gosto de ti, Princesa, e desfolho o malmequer? Ou não gosto, especialmente quando entrevejo as tuas palavras envoltas em pedras contundentes, sem o calor envolvente da tua voz voluptuosa? Olha, jogo com as palavras e também ás cartas e ao dominó e não acredito que sejas para altares, pois de outro modo não terias esse teu sabor a Cravo e Canela. Havia em terras de Espanha salvo seja uma princesa Joana mas dessa não rezam as histórias de João Bimbelo.


A propósito de santidades, rezam as crónicas e as novelas libertinas que os conventos de frades e freiras estavam ligados por subterrâneos corredores que permitiam o gozo na paz do Senhor e da Virgem sua Mãe. É sabido que as filha-família ingressavam nos claustros conventuais com seus dotes, aias e criadas em suas celas privativas. Com tão bastos exemplos achas, Princesa, que devemos acreditar em cheiros de santidade ou preferir o sabor do Cravo e da Canela, embora temperado com alguma pimenta e gindungo, que nesta terra chamam pirípiri?


E pronto, Princesa. com este novo intróito o escriba dá por encerrado este capitulo desta escribadura.

(1) referência a um romance de Clara Pinto Correia - «Adeus, Princesa»

1989.07.21

SETÚBAL

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